Agradeço muito as indicações de textos a respeito do tema (alguns eu já havia lido) e os esclarecimentos prestados nos comentários ao post anterior, no Twitter e por e-mail. Descontados alguns argumentos de autoridade e solenemente ignoradas as ironias, grosserias e deselegâncias de uns poucos, a troca de informações deu-se em alto nível e é sempre saudável. Devemos, sim, sempre conversar e conviver com a diversidade de ideias.
Recebi ontem no celular um recado da Professora Vera Masagão, coordenadora da ONG "Ação Educativa", responsável pelo livro e uma de suas autoras, colocando-se à disposição do Ministério Público para prestar todos os esclarecimentos necessários. Só não retornei a ligação porque peguei o recado já tarde da noite, mas vou fazê-lo. Agradeço a gentileza e elogio a Profª Vera pela atitude. A ONG "Ação Educativa" pode ser melhor conhecida aqui: http://www.acaoeducativa.org.br/portal/
Este blog é pessoal, é desconhecido e pouco acessado. Minha insignificante opinião só ganhou alguma dimensão por uma matéria do jornal O Globo, ao qual deixei bem claro que estava falando como mãe e que não havia analisado juridicamente a questão: http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2011/05/16/procuradora-da-republica-preve-acoes-contra-uso-de-livro-com-erros-pelo-mec-autora-se-defende-924478530.asp
Com as leituras e os esclarecimentos recebidos aqui e no Twitter, entendi perfeitamente o ponto de vista dos especialistas em linguística. Isoladamente considerado, até que faz sentido. Entretanto, penso que há outros aspectos que devem ser considerados, dos pontos de vista educacional, pedagógico e do ensino da Língua Portuguesa de acordo com os programas oficiais dos cursos regulares e das regras para o vestibular. O ensino na vida real é um desafio para educadores e professores de todas as matérias e seja qual for a classe social dos alunos. Minha mãe, hoje aposentada, foi professora da rede estadual a vida inteira. Tenho outras professoras na família. Não há uma verdade absoluta e, se houver, ninguém é dono dela.
Mantenho minha opinião discordante e não me convenci de que esse é o melhor método de ensino, por mais que possa estar correto do ponto de vista acadêmico.
Contudo, pauto-me unica e exclusivamente por minha consciência e sei reconhecer um erro, o que faço aqui, publicamente. Assiste total razão ao Professor Doutor Clecio dos Santos Bunzen Júnior, Meste e Doutor em Linguistica Aplicada pela Unicamp e Professor da Universidade Federal de São Paulo quando chama a minha atenção para o fato de eu ter dito que isso "era um crime".
Expressei-me muito mal. Crime, no sentido técnico-jurídico da palavra, não há. Peço desculpas ao Prof. Dr. Clecio, aos autores do livro e a quem mais possa ter se sentido ofendido. Utilizei o termo no sentido leigo, querendo significar um absurdo, algo inaceitável. Por isso, fica aqui a minha retratação formal e meu esclarecimento, no sentido de que o termo "crime" foi por mim mal utilizado. Não acusei o MEC nem os autores do livro de nenhuma conduta que, sob o aspecto estritamente jurídico, possa configurar crime. Como fosse um castigo, a linguagem vulgar me pregou uma peça.
Por fim, o editorial "A pedadogia da ignorância", do jornal O Estado de São Paulo, edição de hoje ( http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110518/not_imp720732,0.php ), traz uma informação inverídica. Não lidero nenhum grupo de procuradores e não foi anunciado que o Ministério Público Federal irá processar o MEC.
Atuo em matéria criminal em segunda instância, perante o Tribunal Regional Federal, apenas. A atribuição para instaurar procedimentos sobre o tema é dos membros do MP de primeira instância que integram os ofícios de Tutela Coletiva, ou seja, os que trabalham com a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, a quem compete promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (como a educação). Somente esses procuradores é que podem analisar se é o caso de se abrir, ou não, algum procedimento sobre o caso, seja por iniciativa própria ou por representação.
A mim, como mãe, foi gratificante ter me informado sobre as várias facetas da questão, embora mantenha minha opinião discordante inicial.
Meus respeitos e grata a todos pelo bom debate.
Olá Janice, meu nome é Giovanni e li com satisfação que o MP estaria tomando providências contra essa monstruosidade que estão ensinando em nossas escolas. Agora leio, não com certa decepção em seu blog que a notícia não procede. Mesmo assim, torço para que alguém do MP, não necessariamente a Senhora, leve adiante essa questão. Não podemos simplesmente deixar esses Srs. do Ministério da Educação emburrecerem nossas crianças, essa "flexibilização" do que é o português certo e errado é uma caixa de Pandorra para desconstruir nosso Português. Espero que seus pares da Tutela Coletiva se sensibilizem e dêem voz a esse clamor indignado daquela parte da sociedade que de forma nenhuma concorda com essa justificativa crassa (preconceito linguistico!?) de forma a legalizar esse "atentado terrorista" contra nossa Língua Portuguesa.
ResponderExcluirJanice, me perdoe por eventuais ironias ou deselegâncias, mas, sabe o que é? Não pega bem a uma Procuradora da República ficar se expondo da maneira como você faz. Creio que um pouco de reserva não faz mal a ninguém. A Internet é um excelente meio de interação entre as pessoas, mas vem derrubando muita gente que não se contém, principalmente pelo twitter.
ResponderExcluirSei que minha opinião não lhe deve significar muita coisa, mas a sua resposta de hoje foi simplesmente patética. Janice, você amarelou!
Ah, Janice, viu a surpresa?
ResponderExcluirAgora sou seu seguidor! (rs)
Dra. Janice:
ResponderExcluirLi a reportagem e entendi a sua preocupação como mãe e procuradora. Penso que se deva ensinar corretamente e que a "norma culta" seja utilizada desde a mais tenra idade, dentro de um método paulatino de alfabetização. De nada adianta ensinar as nossas crianças de um modo mais “simpático” e acessível, se a vida irá exigir-lhes o correto às portas de um vestibular, de um concurso público. Entendo que este nivelamento por baixo é extremamente danoso ao nosso sistema educacional. No mais, quero parabenizá-la pelas posições corajosas que vem assumindo no magnífico desempenho do s/ cargo público. Sou seu admirador e seguidor @marciolpinto.
Abraços
Márcio
Cara Procuradora da República,
ResponderExcluirAgradeço pelo seu pedido de desculpas, pois somos profissionais sérios que discutimos a formação de professores de língua. O debate na mídia, nas universidades, na rua, no congresso será uma oportunidade de discutirmos o ensino de língua no Brasil. Por isso, sua resposta é honesta e mostra sua preocupação como mãe. Como professor de língua materna, já conversei com várias mães e pais que tinham a mesma preocupação com o ensino da variante padrão e mais valorizada. Eu, como professor de português, sempre procurava mostra que há várias possibilidades de uso língua. Como pesquisador e defensor de um ensino multiculturalmente sensível, fui formado para compreender a língua em seus usos, com suas variedades e relações de poder. Não existe nenhuma obra na Pedagogia ou na Linguistica que defenda o uso do PNP (português não padrão) na escola. O que defendemos é a possibilidade de refletir sobre tais usos sem cair na prescrição (certo x errado). A atitude prescritiva da mídia, por exemplo, cria um simulacro que só existe uma única língua no Brasil. Então, se só existe uma única língua, como migrante nordestino, não falo essa língua.
O que eu penso sobre saúde e alimentação, certamente será diferente de uma explicação teórica de um cardiologista ou de uma nutricionista. Por tal razão, acredito que a mídia teria o papel de informar a população de forma mais parcial (apesar da impossibilidade de neutralidade. Não é isso que tem acontecido, pois vários livros didáticos afirmam algo muito semelhante, mas não são nem citados. Assistimos a formação de uma opinião contra uma obra que as pessoas nem conhecem, nunca leram, etc. Como eu posso julgar um livro didático (e uma coleção) sem conhecer a proposta pedagógica integral? De fato, não podemos julgar o "todo" pela "parte". Por isso, agradeço pelos seus esclarecimentos públicos sobre o uso do termo "crime" e outras informações relevantes. Um abraço.
Prof. Dr. Clecio dos Santos Bunzen Júnior
Em nome da equipe da Ação Educativa, entidade responsável pelo conteúdo pedagógico da obra Por uma vida melhor, gostaria de agradecer a atitude da Procuradora Janice Ascari, que teve a nobreza de reconhecer um equívoco antes que ele tivesse alguma consequência. O Brasil será melhor quando mais servidores públicos e comunicadores agirem da mesma forma, colocando a parcimônia e o interesse público acima da fútil vaidade.
ResponderExcluirVera Masagão Ribeiro
Coordenadora Geral da Ação Educativa