domingo, 17 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

TAM JJ3054 - MPF denuncia três pelo acidente


12/07/11 – TAM JJ3054 - MPF denuncia três por atentado contra segurança no transporte aéreo em acidente que matou 199 pessoas em Congonhas

Laudo aponta operação incorreta das manetes pelos pilotos do Airbus como fator determinante do acidente; Então diretora da Anac, diretor de segurança de voo e vice-presidente da TAM são acusados de negligência e responderão por crime culposo 
 
O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou à Justiça a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Maria Ayres Abreu, o vice-presidente de Operações da TAM, Alberto Fajerman e o diretor de segurança de voo da companhia, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro como responsáveis  pelo acidente aéreo que matou 199 pessoas em julho de 2007, no Aeroporto de Congonhas. Todos responderão pelo crime de “atentado contra a segurança de transporte aéreo” na modalidade culposa.

Toda a denúncia do MPF é baseada em laudos e pareceres que comprovam a responsabilidade dos três acusados. O diretor e o vice-presidente da TAM tinham conhecimento, segundo a procuradoria,  “das péssimas condições de atrito e frenagem da pista principal do aeroporto de Congonhas” e, mesmo assim, não tomaram providências para que, em condições de pista molhada,  os pousos fossem redirecionados para outros aeroportos. Ambos também são acusados de não divulgar, a partir de janeiro de 2007, as mudanças de procedimento de operação com o reversor desativado (pinado) do Airbus-320.

Já a então diretora da Anac, Denise Abreu, é acusada de agir com imprudência, ao liberar a pista do aeroporto de Congonhas, a partir do dia 29 de junho de 2007, “sem a realização do serviço de 'grooving' e sem realizar formalmente uma inspeção, a fim de atestar sua condição operacional em conformidade com os padrões de segurança aeronáutica”.

Além disso, em fevereiro de 2007, no curso de uma ação civil pública movida pelo MPF e que pedia a interdição da pista principal do aeroporto de Congonhas por razões de segurança, Abreu assegurou à desembargadora responsável pelo caso que uma norma (IS-RBHA 121-189) que previa restrições para as operações em Congonhas, especialmente para aeronaves com sistema de freio inoperante, era formalmente válida e eficaz, quando tinha conhecimento de que isso não era verdade.

“Deveras, se de fato fosse válida a IS-RBHA 121-189, a aeronave Airbus A-320 ver-se-ia impedida de pousar na pista principal do aeroporto de Congonhas no dia 17 de julho de 2007, evitando-se, assim, a morte de 199 pessoas”, conclui o procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pela ação.

CAUSAS DO ACIDENTE - Os peritos do Setor Técnico-Científico do Departamento de Polícia Federal em São Paulo (Setec) concluíram que a “operação incorreta das manetes pelos pilotos do Airbus A-320 foi o fator determinante do acidente”. Segundo a análise técnica, o voo JJ3054, procedente de Porto Alegre transcorria normalmente, até o avião tocar na pista, quando “um dos tripulantes relatou a ausência de spoilers (um dos sistemas de freios da aeronave), o que teria levado a tripulação a tomar providências não rotineiras”.

Os procedimentos para operação da aeronave em caso de reversos desativado haviam sido alterados em janeiro de 2007 e previam que “ambas as manetes deveriam ser posicionadas em reverso máximo após o choque na pista”. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeroviários (Cenipa) concluiu, no entanto, que esta informação não havia sido retransmitida aos pilotos da TAM.

Os peritos do Setec também avaliaram que as condições da pista podem ter contribuindo para o acidente. A “inexistência de áreas de segurança de fim de pista” foi considerado um “fator contribuinte para o acidente, uma vez que a eventual existência de uma área adicional além da cabeceira proporcionaria a possibilidade de continuidade na desaceleração observada na aeronave sinistrada”.

A ausência de grooving também é apontada como “fator contribuinte” para o acidente, “ uma vez que uma melhor condição de atrito proporcionaria uma maior redução na velocidade comparativamente àquela experimentada pela aeronave sinistrada”.

Dos exames técnicos analisados, o MPF conclui, na ação, que “o pavimento principal do aeroporto de Congonhas foi liberado para operações de pouso e decolagem sem que apresentasse os níveis de segurança adequados, ao menos para operações com pista molhada”.

TAM – A investigação do Cenipa sobre o acidente com o avião da TAM também constatou que o setor de segurança da companhia (Safety) não estava adequadamente estruturado. Só contava com seis funcionários qualificados para a realização de investigações de segurança operacional e outros três para o processamento de relatórios de prevenção. Em 2006, esse setor processou um total de 151 incidentes e 2.281 relatórios de prevenção.

“Ou seja, o 'Safety' não dispunha de meios humanos e materiais compatíveis com a envergadura da TAM: eram 21 pessoas qualificadas no setor para um total de aproximadamente 19 mil funcionários, dos quais cerca de 5.500 eram tripulantes espalhados por 23 bases no Brasil e 11 no exterior, voando cerca de 375 mil horas com 109 aeronaves”, aponta de Grandis.

Além disso, a comunicação do 'Safety' da TAM com os tripulantes era feita apenas através de e-mail corporativo, sem que houvesse um instrumento de controle que permitisse atestar que as informações transmitidas eram efetivamente lidas.

Se condenados, os denunciados podem pegar de 1 a 3 anos de detenção, na modalidade culposa. Mas o MPF defende que seja aplicada uma pena maior de acordo com o parágrafo 1º do art. 261, que prevê reclusão de quatro a doze anos, devido à destruição total da aeronave e à perda de 199 vidas.

Para ler a íntegra da denúncia, clique aqui:
http://www.prsp.mpf.gov.br/sala-de-imprensa/pdfs-das-noticias/Denuncia-Caso%20TAM-Versao.pdf

Informações da Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República no Estado de S. Paulo
Mais informações à imprensa: Elaine Martinhão e Fred A. Ferreira
11-3269-5068
ascom@prsp.mpf.gov.br
www.twitter.com/mpf_sp

domingo, 3 de julho de 2011

Papo cabeça



Compartilho aqui duas análises sobre esse maravilhoso órgão que, a despeito de ser o comandante do corpo humano, ainda é o mais misterioso e surpreendente quanto ao seu funcionamento: o cérebro.


Na primeira, Daniel Piza faz uma sinopse do último livro de Miguel Nicolelis, Muito Além do Nosso Eu, neurocientista respeitadíssimo, simpático e, para minha satisfação, palmeirense como eu.

Na segunda, Gilberto Dimenstein fala sobre as alterações que a internet pode causar no funcionamento da memória, dada a multiplicidade de informações num mesmo momento, além do vício de se manter sempre conectado. É o "cérebro de pipoca".

Pare para pensar, lieralmente. Diariamente, distribua seu tempo de forma a poder desligar o computador (e o BlackBerry, iPhone...) por algumas horas. Desconecte-se por um período. Leia um livro. Faça palavras cruzadas. Aprecie uma música. Uma coisa de cada vez. Fazíamos isso antes dos celulares e da internet, lembram?

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Expandindo o cérebro

03 de julho de 2011 | 0h 00

Daniel Piza - O Estado de S.Paulo
Se há uma era de ouro em nosso tempo, talvez seja a dos ensaios científicos. Desde nomes como Carl Sagan e Stephen Jay Gould, no final dos anos 70, até Stephen Hawking e Jared Diamond, mais recentemente, o mercado editorial tem lançado cada vez mais livros de alta qualidade que ao mesmo tempo divulgam e fazem avançar a ciência. É um equívoco pensar que os grandes escritores de ciência sejam meros democratizadores de ideias alheias; não raro eles são grandes cientistas que levam para a escrita o máximo possível da riqueza de seu pensamento, abrindo mão apenas de detalhes técnicos, simplificando sem banalizar. Tal é o caso agora de Miguel Nicolelis, cujo Muito Além do Nosso Eu (Companhia das Letras) resume suas pesquisas e conceitos mais caros e originais. E põe mais um brasileiro, ao lado de Marcelo Gleiser e Fernando Reinach, nessa tendência tão saudável da atualidade.

Galileu foi ótimo prosador, Newton também escreveu muito, Darwin era um estilista, Einstein explicou sua própria revolução mental, Bertrand Russell mergulhou em matemática e filosofia com sua elegância de lorde, Richard Feynman foi igualmente um prodígio de clareza verbal. Mas nunca antes vimos tal quantidade de livros bons de ciência que não são didáticos, embora ensinem tanto; e você pode discordar de Richard Dawkins, Oliver Sacks, Daniel Dennett ou Antonio Damasio, só que não pode dizer que escrevem mal. Não por acaso tantos desses prosadores científicos em destaque são neurologistas, como Nicolelis, e/ou ligados aos vastos conhecimentos que a chamada Teoria da Evolução legou à biologia moderna, passando por nomes como Thomas Huxley e Ernst Mayr, autores de ensaios antológicos sobre o tema. Com as tecnologias de registro de sons e imagens cerebrais, a disciplina deu saltos impressionantes.

O livro de Nicolelis deixa isso tudo muito evidente. Mesclando o relato autobiográfico de suas pesquisas com a explicação dos trabalhos que as antecederam, permite ao leitor que saia do livro tendo aprendido muito e muito a pensar. Talvez se possa dizer que essa neurociência contemporânea tem aumentado não apenas o conhecimento do funcionamento cerebral, mas também os paradoxos a seu respeito. Por um lado, os escaneamentos das atividades neuronais mostram que muitas coisas antes tidas como ambientais ou culturais, como o ciúme e a competitividade, são antes de mais nada inclinações biológicas; autores como Steven Pinker têm insistido muito em mostrar que a natureza humana está longe de ser um papel em branco que a vida social preenche. Ao mesmo tempo, descobertas diversas também reforçam o papel da empatia, como no caso dos neurônios espelhos analisado por V.S. Ramachandran: somos muito mais dependentes uns dos outros do que gostaríamos de pensar, e o cérebro é um sistema muito aberto e maleável aos eventos externos.

Nicolelis faz parte do segundo grupo. Com seu trabalho sobre a interface entre cérebro e máquina, no qual mostra como extensões robóticas são incorporadas pelos circuitos neuronais como se fizessem parte do organismo, ele se alinha aos que veem o órgão não como um computador que meramente processa inputs do ambiente, mas que transforma sua própria estrutura em função deles. Nicolelis chega a falar do amor em termos neurofisiológicos, ao notar que nossas simulações cerebrais incorporam o ser amado como uma continuidade de nós mesmos, uma projeção de nosso corpo que transforma nossa autoimagem mental. Essa plasticidade "pode explicar por que é tão doloroso enfrentar o final de uma relação amorosa ou a morte de um ente querido. Basicamente, eu proponho que essa dor tão terrível e dilacerante emerge porque, do ponto de vista de nosso sempre meticuloso escultor cerebral, essa perda representa na verdade uma renúncia irrevogável de uma parte integral de nosso eu". Sim, Chico Buarque sabia: "Oh pedaço de mim, oh metade arrancada de mim".

Acho bacana que Nicolelis use passagens mais pessoais e descontraídas em seu texto (até o Palmeiras, time pelo qual torce, aparece mais de uma vez), embora, principalmente no começo, sua escrita escorregue um pouco para o excesso de adjetivos ou chavões. Quando se trata de descrever experimentos e conceitos, porém, o texto se torna mais preciso e fluente. Ele logo vai dizendo qual sua posição: devemos pensar que o mecanismo cerebral ocorre por meio de populações de neurônios, de redes que conectam essas células por ligações químicas e também por frequências de energia, em vez de pensar em neurônios individualizados. É uma visão em 3D do cérebro, que dá maior ênfase à coordenada do tempo do que as dominantes até aqui. Nicolelis critica a noção dele como um órgão dividido em áreas altamente especializadas. Propõe um cérebro menos linear, mais complexo e relativista, em que propriedades como a consciência emergem das interações entre bilhões de neurônios.

Como Damásio, Nicolelis se volta contra a noção cartesiana do cérebro como um decodificador de sinais exteriores, derrubada por duas décadas de pesquisas que mostraram como ele toma a iniciativa e trabalha com simulações o tempo todo, compondo uma visão da realidade. Aquilo que chamamos de vida mental deriva da "combinação da história evolutiva e individual da vida do cérebro, seu estado dinâmico global a cada momento no tempo e as representações internas que ele mantém do corpo e do mundo". Este último ponto é particularmente interessante a Nicolelis. Em sua observação, o cérebro de um macaco com um dedo amputado reorganiza os neurônios que representavam esse dedo de modo que sintam estímulos táteis nos adjacentes. Sem o correspondente anatômico, as células se adaptam a novas tarefas. O mesmo acontece com uma prótese robótica que o cérebro humano passa a incorporar no lugar do membro mutilado. Há uma assimilação dos artefatos como extensões do próprio corpo.

Como tantos cientistas brasileiros (os citados Gleiser e Reinach, por exemplo), Nicolelis precisou ir para outro país para desenvolver sua tese em laboratórios adequados, nos quais a computação desse conta de fenômenos que envolvem trilhões de informações (as conexões neuronais, registradas por algoritmos). E narra minuciosamente como percebeu que não se pode isolar um neurônio num determinado espaço, como se tivesse uma única função, e que se deve considerar o tempo como outra variável. Dependendo do momento, em suma, um neurônio pode estar ocupado com uma tarefa distinta da que o ocupava até então, em diferentes sincronias; circuitos de sinais são refeitos a todo instante. O cérebro distribui as tarefas de modo muito mais amplo e plástico do que se imaginava; pode até partir de módulos funcionais, mas muitas regiões participam de um mesmo processo mental e em níveis diversos.

Uma confirmação veio há cerca de uma década, quando Nicolelis e seus colegas conseguiram que a atividade cerebral de uma macaca nos EUA movesse dois braços robóticos no Japão, por meio de computadores conectados. Mais tarde, por meio de estímulos visuais fornecidos por microeletrodos, conseguiram que outra primata movessem um joystick, provando com isso que a função motora não tem uma localização exata e estrita, podendo ser desempenhada em pontos díspares. Daí a ideia central de Nicolelis, à qual em alguns momentos parece dar um tom visionário: é possível construir próteses controladas pela mente, ou seja, estimular o cérebro a assimilar uma máquina como se fosse prolongamento do corpo. Muitas pessoas parecem pensar que isso seria como mover objetos por meio do pensamento, à la Uri Geller, mas na teoria de Nicolelis não há espaços para magia ou misticismo. Trata-se de um experimento tecnológico, ponto.

É óbvio, no entanto, que nenhum leitor sai desse livro sem se sentir fascinado por tais pesquisas, ainda que longe de definitivas, e ao mesmo tempo cético sobre algumas generalizações. Nicolelis diz que o córtex não tem fronteiras e hierarquias nítidas e que deve ser tratado como uma área contínua em constante reinvenção, um "oceano de interações dinâmicas multimodais". Mas diz que está pronto para aceitar "um certo grau de especialização" e reconhece que ainda há muito trabalho experimental a fazer até que possa afirmar com segurança que "populações de neurônios podem ser recrutadas de acordo com a necessidade funcional ou comportamental", sugerindo uma possibilidade de autocontrole que vai muito além da verificação de que redes neuronais se readaptam em corpos mutilados ou macacos condicionados. Nicolelis fala em libertar o cérebro do corpo e direcionar o processo evolutivo de nossa espécie... Mas, por enquanto, seu trabalho já expandiu o cérebro ao mostrar sua estrutura polifônica, mesmo que o maestro pareça ter o hábito de ir ao banheiro durante o espetáculo.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110703/not_imp739960,0.php



GILBERTO DIMENSTEIN
03 de julho de 2011 - Folha de São Paulo

Cérebro de pipoca



Pesquisadores detectam há tempos distorções, como a compulsão para se manter conectado, como um vício


O GOOGLE anunciou na semana passada um projeto para enfrentar o Facebook, disposto a reinventar a mídia social. A notícia teve óbvio impacto mundial e despertou a curiosidade sobre mais uma rodada de inovações tecnológicas, capazes de nos fazer ainda mais conectados.

No dia seguinte, porém, o Facebook reagiu e anunciou para esta semana uma novidade também de grande impacto, possivelmente em celulares. Para alguns psicólogos americanos, esse tipo de disputa produz um efeito colateral: um distúrbio já batizado de "cérebro de pipoca".

Esse distúrbio é provocado pelo movimento caótico e constante de informações, exigindo que se executem simultaneamente várias tarefas. Por causa de alterações químicas cerebrais, a vítima passa a ter dificuldade de se concentrar em apenas um assunto e de lidar com coisas simples do cotidiano, como ler um livro, conversar com alguém sem interrupção ou dirigir sem falar ao celular. É como se as pessoas tivessem dentro da cabeça a agitação do milho explodindo no óleo quente.

A falta de foco gera entre os portadores do tal "cérebro de pipoca" um novo tipo de analfabetismo: o analfabetismo emocional, ou seja, a dificuldade de ler as emoções no rosto, na postura ou na voz dos indivíduos, o que torna complicado o relacionamento interpessoal.


 

Sou um tanto desconfiado de notícias alarmantes provocadas pelo surgimento de novas tecnologias. Toda ruptura desencadeia uma onda de nostalgia e de temores em relação ao futuro.

Mas algumas pesquisas em torno do "cérebro de pipoca" merecem atenção por afetar o processo de aprendizagem. Uma delas foi realizada em Stanford, a universidade que, por ajudar a criar o Vale do Silício, na Califórnia, impulsionou a tecnologia da informação.

Neste ano, Clifford Nass, professor de psicologia social na Universidade Stanford, revelou num seminário sobre tecnologia da informação a pesquisa que fez com jovens que passam muitas horas por dia na internet, acostumados a tocar muitas tarefas ao mesmo tempo.

Ele mostrou fotos com diversas expressões e pediu que os jovens identificassem as emoções. Constatou a dificuldade dos entrevistados. "Relacionamento é algo que se aprende lendo as emoções dos outros", afirma Nass.

O problema, segundo ele, está tanto na falta de contato cara a cara com as pessoas como na dificuldade de manter o foco e verificar o que é relevante, percebendo sutilezas, o que exige atenção.


 

Os pesquisadores estão detectando há tempos uma série de distorções, como a compulsão para se manter conectado, semelhante a um vício.

Trata-se de uma inquietude permanente, provocada pela sensação de que o outro, naquele momento, está fazendo algo mais interessante do que aquilo que se está fazendo. Tome o Facebook ou qualquer outra rede social.

Chegaram a desenvolver um programa que envia para o celular da pessoa um aviso sempre que um amigo dela está se aproximando de onde ela está.


 

O estímulo, porém, começa no mercado de trabalho. Vemos nos anúncios de emprego uma demanda por pessoas que façam muitas coisas ao mesmo tempo.

Mas o que Nass, o professor de Stanford, entre outros pesquisadores, defende é o contrário. Quem faz muitas tarefas ao mesmo tempo, condicionando seu cérebro, fica menos funcional. Não sabe perceber as emoções e trabalhar em equipe, não sabe focar o que é relevante e tem dificuldade de estabelecer um projeto que exige um mínimo de linearidade. Não sabe, em suma, diferenciar o valor das informações.


 

Não deixa de ser um pouco absurdo valorizar tanto os recursos tecnológicos que aproximam as pessoas virtualmente, mas que as afastam na vida real.

Daí se entende, em parte, segundo os pesquisadores, por que, em todo o mundo, está explodindo o consumo de remédios de tarja preta para tratar males como a ansiedade e a hiperatividade.

PS- Perto da minha casa, aqui em Cambridge, há uma padaria artesanal, com mesas comunitárias, que decidiu ir contra a corrente. Seus proprietários simplesmente proibiram que se usasse celular lá dentro para diminuir a poluição sonora e a agitação. Sucesso total. O efeito colateral: ficou difícil conseguir lugar.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0307201122.htm (somente assinantes Folha/Uol)