domingo, 22 de abril de 2012

Valeu a pena, Bob Dylan

Foto tirada por mim em 21/4/2012,
no show em São Paulo
Uma canção é como um sonho, e você tenta torná-la realidade. São como países estranhos nos quais você tem que entrar. Você pode escrever uma canção em qualquer lugar, na cabine de um trem, em um barco, em um lombo de cavalo - estar em movimento ajuda. Às vezes, pessoas que possuem o maior talento para escrever canções jamais escrevem nenhuma porque não estão em movimento."
(Bob Dylan, "Crônicas", vol. I, Ed. Planeta, 2005, p. 182)


A desorganização das filas e as informações desencontradas dos funcionários quanto ao acesso aos variados setores do Credicard Hall desapareceram quando as luzes se apagaram e alguns senhores vestidos de preto entraram no palco. A platéia explodiu em palmas quando entrou um deles, mais baixinho e mais velho que todos e que trajava um chapéu branco: Mr. Bob Dylan.

Às vésperas de completar 71 anos, o poeta visionário que nos shows não conversa com o público nem com a imprensa apresenta-se com energia, apesar da voz combalida, rouquíssima, de alcance restrito, provavelmente resultado dos excessos e consumo de cigarro por anos e anos. Nada disso tira o brilho e o magnetismo do músico-poeta-escritor-autodidata-rebelde-por-natureza que é um dos ícones da música mundial.

Abaixo, o primeiro vídeo é uma palinha dele num solo de gaita. No segundo video, mais longo, um de seus maiores sucessos, "Like a rolling stone".

Pena que do setlist não constava a minha preferida, Hurricane (que dura cerca de 8 minutos, precisa ter um super violinista e conta a estória verídica de um erro judiciário premeditado e racista).

Ao final, um de seus poemas, que tirei do livro "Tarantula" (minha edição é a da Harper Perennial, London, UK, 2005 - o original é de 1966).

The answer, my friend, is blowing in the wind.





here lies bob dylan
murdered
from behind
by trembling flesh
who after being refused by Lazarus,
jumped on him
for solitude
but was amazed to discover
that he was already
a streetcar &
that was exactly the end
of bob dylan

he now lies in Mrs Actually's
beauty parlor
God rest his soul
& his rudeness

two brothers
& a naked mama's boy
who looks like Jesus Christ
can now share the remains
of his sickness
& his phone numbers

there is no strenght
to give away
everybody now
can have it back

here lies bob dylan
demolished by Vienna politeness -
which will now claim to have invented him
the cool people can
now write Fugues about him
& Cupide can now kick over his kerosene lamp -
bob dylan - killed by a discarded Oedipus
who turned
around
to investigate a ghost
& discovered that
the ghost too
was more than one person

Nota do blog:
Saiba mais sobre a vida de Bob Dylan em "No Direction Home", Robert Shelton, Larousse/LaFonte, 2011.

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