domingo, 18 de setembro de 2011

Vara sem juiz - aí é que os processos não andam mesmo...


Sem juiz, 2.ª Vara vive caos e ação contra Universal não anda

Em uma semana, quatro juízes se revezaram em vara de lavagem e não tiveram condições de analisar denúncia do MPF

17 de setembro de 2011 | 0h 00


Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo
Se depender do novo modelo de designação de juízes para a 2.ª Vara Criminal Federal em São Paulo, a denúncia contra o bispo Edir Macedo e a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus vai mofar na gaveta. A 2.ª Vara vive etapa de instabilidade, sem juiz permanente em seus quadros.

No início do mês, o magistrado Márcio Ferro Catapani, o substituto que praticamente sozinho cuidava de todas as demandas, viajou para a Itália, em licença autorizada. A partir daí, a presidência do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF3) adotou o sistema do "juiz de passagem" - o magistrado não esquenta a cadeira porque nela não fica mais que dois dias, o que torna inviável dar conta de uma demanda como a da Universal.

Estratégica, porque sua competência alcança exclusivamente ações sobre crimes financeiros, lavagem de capitais e evasão de divisas, a 2.ª Vara se tornou responsável pela ação contra Macedo e seus aliados há 15 dias. A escolha obedeceu a sorteio eletrônico.

Mas, na última semana, a 2.ª Vara experimentou um rodízio frenético. Pelo menos quatro juízes passaram por lá, média de um por dia útil. Nenhum deles teve condições materiais nem tempo para se debruçar sobre a montanha de papéis que acompanham a denúncia de 28 páginas do Ministério Público Federal contra os dirigentes da igreja. Nesse cenário, não há juiz que se sinta seguro para decidir.

Quase todos os processos sob tutela da 2.ª Vara incluem decisões de quebra de sigilo bancário e fiscal e interceptação telefônica dos investigados. São processos sensíveis - envolvem políticos, empresários e servidores - , sujeitos a pressões, lobbies, manipulações, tráfico de influência e toda sorte de expedientes.

Em alguns dias, a Procuradoria da República deverá oferecer denúncia contra cinco auditores da Receita que caíram na malha fina da Operação Paraíso Fiscal. Ninguém sabe se haverá juiz para examinar esse caso de corrupção e sonegação de R$ 3 bilhões.

O caos na 2.ª Vara irrita e desconforta juízes do Fórum Jarbas Nobre, que abriga as dez varas criminais federais de São Paulo.

Nos termos do artigo 6.º, inciso 17, do Regimento Interno do Conselho da Justiça Federal da 3.ª Região, cabe ao presidente do colegiado, que é também o presidente do tribunal, designar juízes substitutos para auxiliar o juiz titular, bem como estabelecer sistema de substituição.

O desembargador Roberto Haddad é o presidente da corte. Sua assessoria informou que ontem ele estava em Mato Grosso do Sul, inaugurando a 2.ª Vara de Ponta Porã. Na quinta, foi à posse da desembargadora Diva Malerbi.

"Uma coisa grave é que tive de pedir vista da denúncia, mas nem isso me deram, sob argumento de que o juiz estava de passagem", desabafa o criminalista Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, que defende a Universal. "Hoje (ontem), peticionei ao MPF para que forneçam cópia da denúncia, que não tenho até agora. A situação da 2.ª Vara reforça minha opinião de que varas de lavagem são um grande equívoco. Uma ideia que parecia boa e não deu certo. Experiências péssimas. São varas que enlouquecem os juízes. Quando o juiz não é bom, ele exacerba no poder."

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sem-juiz-2-vara-vive-caos-e-acao-contra-universal-nao-anda,773698,0.htm

NOTA DO BLOG:  A juíza titular da 2ª Vara Federal Criminal, Sílvia Maria Rocha, está há vários meses convocada para atuar em segunda instância, na 1ª Turma do TRF da 3ª Região, substituindo um desembargador. A convocação vai até o final deste ano.

O juiz substituto, Márcio Catapani, obteve regular licença para fazer um curso na Itália e deve retornar ao trabalho no início de 2012.

Há duas semanas, os Procuradores da República entraram em contato com a Procuradoria Regional da República para comunicar o que está ocorrendo na 2ª Vara. Cientes da gravidade da situação, estamos tentando marcar uma audiência com o Presidente do TRF, Roberto Haddad, para expor o problema.

A 2ª Vara, uma das duas especializadas no julgamento de crimes financeiros e lavagem de ativos, não pode ficar acéfala, sem comando, sem continuidade na condução dos processos e sem julgamentos. Na ausência de titular e substituto, o Tribunal Regional Federal deveria designar pelo menos um juiz fixo, ainda que temporariamente, diante da importância dos feitos e da necessidade do serviço.

Um comentário:

  1. Mas é de uma irresponsabilidade enorme, no mínimo, o juiz substituto ir fazer curso na Itália enquanto a juíza titular exerce jurisdição no TRF. Irresponsabilidade maior ainda foi o TRF autorizar esta licença. Realmente ninguém nestas terras é repúblico nem zela e trata do bem comum, senão cada um de seu próprio interesse!
    Renan Levenhagen Pelegrini

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