terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dez anos sem George

Hoje, 29 de novembro de 2011, faz dez anos que George Harrison passou para outra dimensão, aos 57 anos de idade, vítima de câncer. Era o mais jovem e o mais tímido dos Beatles.

Nascido numa pequena casa em Liverpool, onde viveu uma infância tranquila, George é considerado, ao menos por mim, o mais talentoso e o melhor músico dos quatro Beatles. Depois de um período de uso pesado de drogas, por volta dos 25 anos de idade George começou a acordar para seu lado espiritual, iniciando estudos de meditação e religião, na busca por mais conhecimento da alma, por um mundo melhor, mais justo, com mais amor e paz. Virtuoso, aprendeu a tocar cítara, ukulele, mandolim e outros instrumentos incomuns com o grande Ravi Shankar, modificando a sonoridade dos Beatles, como na música "Norwegian Wood".

Foi o primeiro a ter sucesso na carreira solo após o término da banda, com a inesquecível "My Sweet Lord", em 1970. Criativo, compartilhou palcos, trilhas, faixas e projetos com seu melhor amigo, Eric Clapton, além de  Bob Dylan, Roy Orbison, Jeff Lynne, Eletric Light Orchestra e outros - formando o Travelling Willburys, o grupo de comédia Monty Phyton. Também foi o primeiro a organizar um show para arrecadar fundos para fins humanitários, o Concerto Para Bangladesh (agosto de 1971), cuja venda de CDs, DVDs e outras mídias continua revertendo até hoje para um fundo criado por George junto à Unicef.

Deixo-os com algumas fotos e dois vídeos: uma belíssima canção instrumental, de seu último álbum, "Brainwashed" - a celestial Marwa Blues e um programa de TV de 1975, no qual George diverte e se diverte tocando Pirate's Song.





Flor de Lotus, a preferida. Dizia ele: "I'm a gardener, basically" (Sou um jardineiro, basicamente)

Um carinho, no Museu Tusseau (Londres)

No museu The Beatles Story, em Liverpool

Meu filho e eu, na frente da casa onde George nasceu, em Liverpool (Rua Arnold Crove, nº 10)







quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lugar de jornalista investigativo é na cadeia



Felizmente, não aqui. Mas pode ocorrer em breve na África do Sul.


Autoritariamente, o Congresso Nacional Sul-africano aprovou ontem, por expressiva maioria, um absurdo projeto de lei que criminaliza o jornalismo investigativo, punindo com penas de 5 até 25 anos de prisão aquele que divulgar informações que o Estado considere sigilosas. O episódio foi veiculado na imprensa mundial, ontem, com a referência 'Black Tuesday' (Terça Negra). O projeto segue para o Senado e, após, para a sanção presidencial.

Tudo começou na semana passada, quando o principal jornal do país, o Mail & Guardian, iria publicar matérias sobre corrupção no governo. O jornal foi censurado e obrigado a ceder, sendo impresso com tarjas pretas a mando do governo (vide acima). Uma das matérias versava sobre propinas que o porta-voz da Presidência, Mac Maharaj, teria recebido da indústria de armas, além de declarações públicas mentirosas. Durante o final de semana, Maharaj apresentou uma queixa formal na justiça contra o jornal e contra dois de seus jornalistas, Stefaans Brümmer e Sam Sole.


Não há verdadeira democracia ou cidadania sem plena liberdade de imprensa. Excessos podem se resolver em perdas e danos, mas sempre a posteriori. Censura prévia, jamais!

Minha posição quanto ao tema pode ser vista, por amostragem,
em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/showNews/ipub271120022.htm,
aqui http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/05/19/ascari-quer-que-justica-proteja-jornalistas/
ou aqui http://clipping.vrc.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=23081&sid=85.

Bob Woodward e Carl Bernstein (jornalistas investigativos que desvendaram o Watergate e levaram o presidente Richard Nixon à renúncia em 1974) seriam condenados à prisão perpétua?

África do Sul aprova lei que protege segredos no governo

Oposição afirma que medida manterá corrupção fora de controle e mina a democracia no país

Agência Estado
JOHANNESBURGO - O partido governista Congresso Nacional Africano (CNA) apresentou e aprovou em voto um projeto de lei no Parlamento da África do Sul nesta terça-feira, 22, para proteger segredos de Estado, apesar das fortes críticas e objeções da oposição, a qual inclui desde conservadores brancos a nacionalistas negros, grupos que eram inimigos na era do Apartheid. A lei foi aprovada por 229 votos a favor e 107 contrários.
Manifestante protesta contra proteção de segredos de Estado na África do Sul - Siphiwe Sibeko/Reuters
Siphiwe Sibeko/Reuters
Manifestante protesta contra proteção de segredos de Estado na África do Sul


Os políticos da oposição afirmam que a lei irá manter a corrupção dentro do governo fora de controle e minar a democracia duramente conquistada na África do Sul. O CNA diz que a África do Sul precisa atualizar a legislação que sobrou da era do Apartheid e que não tem a intenção de coibir a livre expressão e amordaçar a imprensa.

A oposição esperava que o Parlamento, onde o CNA possui maioria folgada, aprovasse a Lei de Proteção à Informação de Estado. A oposição afirma que agora desafiará a lei na Corte Constitucional.
Entre os opositores à lei, estão dois nomes de peso: o arcebispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, e a prêmio Nobel de Literatura Nadine Gordimer. O escritório do ex-presidente Nelson Mandela expressou reservas com o projeto de lei. A Câmara Alta do Parlamento agora poderá pedir emendas ao projeto de lei, mas não se espera que isso ocorra. O presidente Jacob Zuma precisará sancionar a matéria para que ela vire lei.

Mukelani Dimba, um ativista sul-africano que fez campanha contra o projeto de lei, disse que os parlamentares que chegaram ao poder após o fim do Apartheid, em 1994, inicialmente lutaram para se diferenciar dos supremacistas brancos, adotando não apenas uma Constituição moderna, mas uma série de leis progressistas. Mas Dimba afirma que ao longo da última década esses ideais progressistas desapareceram.

"Nós temos hoje um poder governante (O CNA) que apenas quer manter o poder, e nós temos que admitir que a informação é poder", afirmou Dimba. "Hoje foi um dia sombrio e triste para a nossa democracia", disse Lindiwe Mazibuko, política da Aliança Democrática, principal partido da oposição. "O CNA abandonou os valores dos seus fundadores", ela comentou. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.

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Câmara sul-africana aprova lei que prevê prisão de jornalistas

Legislação pune com até 25 anos de cadeia vazamento de informações que o governo considere confidenciais
Arcebispo Tutu, ONGs e grupo ligado a Mandela criticaram aprovação; texto ainda segue para votação dos senadores
 

DAVID SMITH
DO “GUARDIAN”


A Câmara da África do Sul aprovou uma lei controversa para proteger segredos de Estado, apesar das objeções do arcebispo e Nobel da Paz Desmond Tutu e de um grupo que representa o ex-presidente do país Nelson Mandela.

A lei criminaliza vazamento, posse e publicação de informações avaliadas pelo governo como confidenciais. Se considerados culpados, jornalistas e outros transgressores da norma poderão enfrentar até 25 anos de prisão.

O Congresso Nacional Africano, partido do governo, assegurou 229 votos a favor da legislação, com 107 contra e duas abstenções. O CNA alegou atualizar lei de 30 anos atrás, do período do apartheid (segregação racial).

Mas deputados rivais se uniram contra a "lei do sigilo". Para críticos, é a primeira legislação desde o fim do apartheid a desmontar parte da democracia sul-africana.

Segundo Lindiwe Mazibuko, da oposicionista Aliança Democrática, a lei "pode descosturar a própria tessitura de nossa Constituição. Criminalizará a liberdade por que lutaram tantas pessoas".

Mais de mil manifestantes se reuniram diante do prédio do Parlamento na Cidade do Cabo. Muitos trajavam preto.

Em rara intervenção política, o Centro Nelson Mandela divulgou uma "manifestação de preocupação" com a lei. Mandela, 93, sempre permaneceu leal ao CNA e quase nunca interveio desde que deixou a Presidência.

O arcebispo Tutu disse: "É um insulto pedir que [os sul-africanos] engulam uma lei que pode ser usada para proibir o jornalismo investigativo e que faz com que o Estado tenha de prestar contas apenas ao próprio Estado".

A aprovação da lei também foi condenada no exterior: a Human Rights Watch a descreveu como "golpe contra a liberdade de expressão".

Agora, ela será submetida ao Senado antes de seguir para a sanção do presidente sul-africano, Jacob Zuma. Poderá, ainda, ser contestada na corte constitucional.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/10562-camara-sul-africana-aprova-lei-que-preve-prisao-de-jornalistas.shtml# (assinantes Folha/UOL)


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Para saber mais (em inglês):

Mail & Guardian: http://mg.co.za/


The Right Side of Hope : http://mg.co.za/article/2011-11-22-the-right-side-of-hope/

Maharaj targets M&G's Brümmer and Sole: http://mg.co.za/article/2011-11-19-maharaj-targets-mgs-brmmer-and-sole/




The New York Timeshttp://www.nytimes.com/2011/11/23/world/africa/south-african-parliament-to-vote-on-press-law.html?_r=1&scp=2&sq=south%20africa&st=cse


sábado, 19 de novembro de 2011

Deu bode (impessoalidade da administração pública)

Deu bode na festa

O ministro das Cidades usa o cargo e arranca patrocínio estatal para evento no interior da Bahia que promoveu os interesses políticos de sua família

ISABEL CLEMENTE
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- (Foto: Andre Dusek/AE e reprodução)


As festas do bode fazem parte da tradição do interior nordestino. Em muitas cidades, as comemorações misturam exposições dos caprinos com muita comida, música e concursos entre vaqueiros a pé laçando os animais soltos no mato. A realização de uma dessas festas na semana passada em Paulo Afonso, município no norte da Bahia, mereceu a atenção de um ilustre representante da região, o ministro das Cidades, Mário Negromonte. Os cartazes da 11a Festa do Bode espalhados pelas ruas destacaram o nome e o cargo de Negromonte e do filho, o deputado estadual Mário Filho, ao lado dos logotipos de sete órgãos públicos apresentados como patrocinadores.

A exibição do nome dos dois políticos no cartaz de divulgação de uma festa paga, pelo menos em parte, com verbas oficiais materializa uma situação delicada para um ministro ou um deputado. A legislação brasileira proíbe a promoção pessoal no exercício de cargos públicos (leia o quadro na página 66). Veda também qualquer ato que possa ser caracterizado como campanha eleitoral antecipada. Para entender o exato envolvimento do ministro das Cidades com o bode de Paulo Afonso, é importante reconstituir os antecedentes da festança. O assunto foi tratado publicamente por Negromonte na manhã do dia 22 de outubro, durante a inauguração de uma estação de piscicultura em Paulo Afonso, obra realizada com verbas do Ministério da Pesca e do governo da Bahia. Acompanhado por Mário Filho, pela mulher, Ena Vilma, prefeita de Glória, município a 10 quilômetros de Paulo Afonso, e por vários outros aliados, Negromonte soube na ocasião que seu correligionário Delmiro do Bode, ex-vereador do PP, tinha dificuldades para obter patrocínio para a festa.

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O cartaz fere o princípio constitucional da impessoalidade "
JANICE ASCARI, procuradora da República em São Paulo
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Delmiro é cabo eleitoral de Negromonte e responsável pela Coomab, cooperativa que fez a festa. Nos dias anteriores à inauguração da estação de piscicultura, tentava sem sucesso arrancar verbas de órgãos como a BR Distribuidora, o Banco do Nordeste e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), uma estatal do grupo Eletrobras. Na frente de várias pessoas, Negromonte deu um telefonema para a Chesf e falou com um interlocutor sobre os problemas da festa. À noite, o ministro e Delmiro do Bode estiveram juntos num encontro do PSL em Paulo Afonso. Ele estava acompanhado, mais uma vez, de Mário Filho.

Poucos dias depois, a Chesf autorizou a liberação de R$ 70 mil para o evento de Delmiro do Bode.
A boa vontade com a festa de Paulo Afonso é uma novidade na Chesf. A estatal nunca colocara dinheiro na produção anual de Delmiro. A empresa tem critérios para patrocínios predefinidos e registrados no portal oficial. As regras internas impedem contribuições financeiras para “eventos que possam caracterizar promoção pessoal de autoridades”. As marcas da BR Distribuidora e do Banco do Nordeste estão no cartaz indevidamente, segundo as assessorias das duas empresas. No caso da distribuidora da Petrobras, o projeto de Delmiro do Bode “não se enquadrava na política de patrocínios”.

O Banco do Nordeste também informou que o pedido não cumpria as formalidades exigidas pela instituição. Os outros órgãos citados no cartaz são ligados à Secretaria de Agricultura da Bahia. Disseram a ÉPOCA que entraram com apoio técnico, palestrantes e inspeção dos animais. A homenagem a Negromonte nos cartazes, segundo Delmiro, é uma retribuição a favores prestados pelo ministro. “Ele sempre ajuda com alguma coisinha, mas neste ano nem vi o ministro”, diz Delmiro. Não é a primeira vez que Delmiro do Bode põe o nome de Negromonte nos cartazes de suas festas. Ele fez a mesma coisa em 2009, quando Negromonte se preparava para disputar mais um mandato de deputado federal. Não foi repreendido.


ÉPOCA procurou especialistas para ouvir opiniões sobre a exibição do nome de ministros e deputados na propaganda da festa. “Por si só, o cartaz com o nome de uma autoridade associada a alguma realização fere o princípio constitucional da impessoalidade, segundo o qual nenhuma obra ou realização é fruto do esforço de uma pessoa, mas de um governo, uma prefeitura”, diz a procuradora da República Janice Ascari, de São Paulo. Ultrapassar a fronteira da “impessoalidade”, segundo a procuradora, é um ato de improbidade administrativa, um ilícito sujeito a várias sanções, inclusive perda do cargo. A lei que trata do assunto obriga as autoridades “a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos”. O procurador da República Rogério Nascimento, que já atuou pelo Ministério Público Eleitoral, também tem preocupações relacionadas à exposição de nome de políticos em cartazes. “Se adversários se sentirem prejudicados e a situação configurar abuso de poder econômico e político, independentemente de haver improbidade, pode ser um caso de propaganda antecipada para o qual a lei prevê multas”, diz Nascimento.

A promoção da imagem de Negromonte em eventos públicos faz parte da estratégia de controle político da região pela família do ministro. Eleito deputado federal pela quinta vez em 2010, Negromonte demonstra interesse em manter sua influência na área para as próximas disputas eleitorais. Além da mulher, Ena Vilma, prefeita de Glória, Negromonte trabalha com afinco para eleger o filho prefeito de Paulo Afonso, maior cidade da região. Isso explica a constante presença de Mário Filho nas aparições públicas dos pais, muitas vezes associadas a verbas federais.
- (Foto: Heckel Junior/Ascom-Seagri)

Com mais de 100 mil habitantes, Paulo Afonso é o domicílio eleitoral de Negromonte e o objeto de seu desejo político. A cidade tem hoje como prefeito Hamilton Bastos Pereira (PDT), adversário do ministro. Para divulgar o nome do filho, Negromonte se desloca nos fins de semana para Paulo Afonso, onde faz reuniões políticas e negocia candidaturas para as eleições municipais do ano que vem. Mário Filho circula pela Bahia, a tiracolo do pai, em cerimônias de inauguração de obras e equipamentos comprados com recursos federais. Cercados de aliados, os dois chegam às cidades com estardalhaço até para atos de assinaturas de protocolos de intenção.
Para dar conta das longas distâncias na Bahia, Negromonte viaja em pequenos aviões que, segundo ele, são pagos com dinheiro do próprio bolso. Ele ganha R$ 26.700 brutos e, segundo declarou à Justiça Eleitoral em 2010, tem uma lista de bens avaliados em R$ 975 mil, sem referência a qualquer valor significativo em aplicações financeiras. Nas viagens em que busca apoio para seus planos políticos, Negromonte não impõe um filtro seletivo ao perfil de seus aliados. Foi num desses aviões fretados que ele aterrissou, no início do ano, em Chorrochó, município baiano de 10 mil habitantes, comandado por um amigo enrolado, o prefeito Humberto Gomes Ramos (PP). Ramos chegou a ser afastado da prefeitura por um período, acusado pelo Ministério Público de ter contratado um morto para fazer transporte escolar.

- (Foto: Reprodução)

Os adversários de Negromonte acusam sua família de usar obras públicas com fins eleitoreiros, como em Glória, o município de 15 mil habitantes administrado por sua mulher, Ena Vilma. Todas as obras importantes de Glória – uma praça de esportes, a ciclovia e uma pista de Cooper – foram feitas graças a emendas parlamentares que Negromonte propôs como deputado e liberou como ministro. Essas obras estão concentradas no balneário, uma área de lazer à margem de um lago artificial.

Procurado por ÉPOCA, Negromonte disse que telefonou para a Chesf para “dar um testemunho” da importância da Festa do Bode, da qual participa há muitos anos. Afirmou também ter solicitado a análise da pretensão dos organizadores, em tramitação na empresa. Quanto ao nome nos cartazes, disse que foram colocados “sem autorização, sem solicitação e sem conhecimento prévio” do pai e do filho. Segundo Negromonte, a situação não configura promoção pessoal por ter sido uma iniciativa indevida dos responsáveis pela festa. Sobre o uso de avião para a viagem a Chorrochó, o ministro afirmou que a aeronave pertence a um empresário amigo do filho e só pagou pelo combustível.

Negromonte se tornou ministro das Cidades no início do governo da presidente Dilma Rousseff. Entrou no lugar de Márcio Fortes, também filiado ao PP, depois de uma briga interna no partido, que ainda hoje continua rachado. Márcio Fortes não queria sair e tinha a preferência de Dilma, mas Negromonte obteve o apoio da maioria da bancada do PP e atropelou o correligionário. Nos últimos meses, ele entrou na lista dos auxiliares indesejados pela presidente, aqueles que ela prefere ver longe da Esplanada. Por enquanto, a data prevista para a saída de Negromonte é a reforma ministerial, prevista para o início do próximo ano. 
http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2011/11/deu-bode-na-festa.html


Nota do blog:

O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os princípios que devem reger a administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

O § 1º do mesmo artigo diz que a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

Os atos de improbidade administrativa podem resultar na suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível (CF, art. 37, § 2º).

O artigo 11 da Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) dispõe que configura ato de improbidade qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade ou que atentem contra os princípios da administração pública.

No caso concreto, caberá ao Ministério Público da Bahia, de ofício ou mediante provocação, apurar os fatos, sempre dentro do devido processo legal.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Perfis dos corruptos

Tendências/Debates - FSP, 15-11-2011 
Perfis dos corruptos
FREI BETTO

Enquanto os corruptos não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas

Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso, o direito de o Conselho Nacional de Justiça investigar e punir juízes, a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012 e o combate à corrupção na política.
Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade -a mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado e está na cadeia?
O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca, peixe não belisca.
O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.
Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar.
Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas. Sua lógica é corrupta: "Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV.
O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas.
Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua. É o rei da metáfora.
Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas.
O corrupto "franciscano" pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: "quem não chora, não mama".
Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a se indignar quando o assunto é a corrupção.
O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira.
O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido.
O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e na Olimpíada do Rio, em 2016. Sabe que os Jogos Pan-Americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões.
O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos.
Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.

CARLOS ALBERTO LIBÂNIO CHRISTO, o Frei Betto, frade dominicano, é escritor, assessor de movimentos sociais e autor do romance "Minas do Ouro" (Rocco), entre outros livros.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/8953-perfis-dos-corruptos.shtml (só assinantes Folha/UOL)

domingo, 13 de novembro de 2011

De perto, de longe.

Incrível. Víctor Molev, artista russo. Primeiramente, olhe de longe. Depois, de perto. Ou vice-versa.
Reconhecem os rostos?
Veja mais em http://www.victormolev.com/





quinta-feira, 10 de novembro de 2011

11/11/11


Por todo o planeta, a data 11/11/11 será celebrada com eventos especiais, principalmente às 11 horas, 11 minutos e 11 segundos.

Acreditam os numerólogos, esotéricos e místicos em geral que o número 11 é mágico e que, quando repetido nessa sequência natural, abre uma espécie de Portal de energia, de canalização de bons ou maus fluidos, dependendo da alma.


Dizem alguns que, em tempos imemoriais e em planetas inimagináveis, em outro universo dimensional, convencionou-se que o Portal seria aberto às 11:11, tempo em que todas as formas de vida, terrena e extraterrena, teriam a oportunidade de mover-se positivamente para uma nova espiral de consciência.

Curiosa como sempre, há alguns anos comprei num sebo um livro que trata do tema. Confesso que não entendi praticamente nada sobre a estratificação dos níveis interplanetários e as camadas de dimensões, mas para mim ficou claro que, se as pessoas mentalizarem energias positivas (dentro ou fora do 11), o resultado não pode ser ruim, não é mesmo? Se você se interessar, o livro é o 11:11, de Solara, tradução de Rosaly Mariza Schepis, Editora Madras, 2006.


Mas agora, conta pra mim: quantas vezes você já olhou para o relógio e ele marcava 11:11?



Abaixo, matéria do Correio Braziliense: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/11/10/interna_cidadesdf,277817/para-esotericos-a-data-de-amanha-tem-fortes-significados-para-humanidade.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter


Para esotéricos, a data de amanhã tem fortes significados para humanidade

Leilane Menezes
 

A chegada do 11 de novembro de 2011, amanhã, é considerada, em algumas crenças, uma data de transição. Místicos apostam na abertura de um portal de energia, graças ao alinhamento dos planetas, que trará novas tendências ao cotidiano. Há celebrações agendadas para ocorrer simultaneamente em vários países. Em Brasília, a ocasião será lembrada às 11h11, no Estacionamento 11 do Parque da Cidade, com meditação coletiva e palestras sobre o significado do 11 na numerologia, na cabala, na astrologia e no tarô. O evento prossegue no fim de semana. Os organizadores recomendam que os participantes vistam roupas de cores fortes e vibrantes, análogas ao 11, ou branco. A entrada é franca.

O astrólogo e escritor Felipe Porto, um dos organizadores do encontro em Brasília, ressalta a importância da data. “Serão necessários mil anos para essa data acontecer novamente. As teorias sobre a abertura do portal são as mais diversas, vão de anjos a discos voadores. Mas é uma questão de alinhamento astrológico: às 11h11, o ascendente será Aquário. O regente, Urano, estará na Casa 2, que é a das realizações materiais. Os dois planetas que regem o ser humano (Vênus e Mercúrio) estarão no mesmo local, a 11 graus da casa 11 zodiacal”, explicou o especialista.

Quem sintonizar essa energia, ele destaca, tem possibilidades de obter paz, harmonia e revelações espirituais. “Mas quem não está ligado não vai perceber nada”, admitiu Porto. Segundo a numerologia, 11h11 de sexta-feira é considerada uma hora mágica. “Aí ocorre a abertura do portal. As energias cósmicas estarão alinhadas, possibilitando acesso direto ao plano superior. Como para os místicos importa a chamada ‘hora sideral’ ou ‘tempo estelar’ exato das 11 horas, 11 minutos e 11 segundos, a meditação principal deverá chegar ao auge às 12 horas, 0 minutos e 24 segundos, conforme o relógio, pelo fato de estarmos em horário de verão.”

Os númerosSupersticiosos preocupam-se com a data cheia de repetições de um algarismo só. Grandes catástrofes ocorreram em dias 11, como o ataque ao World Trade Center (EUA), em 11 de setembro de 2001; e o terremoto seguido por tsunami no Japão, em 11 de março deste ano, que causou danos à usina nuclear de Fukushima Daiichi. As datas não são coincidência, segundo numerólogos e místicos de várias correntes. “O 11 é o número do imprevisível, do tudo pode acontecer. É bem e mal, preto e branco. O 11 é unificação do nosso plano com o plano mais elevado”, descreveu Porto, que nasceu em um dia 11, às 11h, e tem 11 letras no nome.

A numeróloga e taróloga Beatriz Aguiar de Melo também traçou previsões. “É preciso muito cuidado com o fogo. A abertura desse portal traz uma energia muito forte, que é a energia da chama. Estão acontecendo muitos incêndios sem explicação. As pessoas devem ter atenção. Até 12/12/12 é um tempo especial. Quem não plantou nada de bom, tem que se cuidar. É hora de colher frutos”, afirmou.

Nem o cinema ficou indiferente à chegada da data. O diretor Darren Lynn Bousman, da sequência Jogos mortais, aproveitou para fazer o lançamento mundial do filme de terror 11/11/11. O longa conta a história de um homem que vê a vida mudar (para pior) em acontecimentos relacionados ao 11. Na ficção, o número é considerado indício de que um ser extraterrestre virá à Terra por meio do portal aberto nesse dia.

Já o astrólogo Francisco Seabra não crê na importância do 11/11/11. Para ele, existem outras explicações para fenômenos que venham a ocorrer. “A passagem do planeta Plutão pelo signo de Capricórnio está criando seriíssimos problemas no planeta. Isso vai durar 20 anos. Acaba em 2023. Plutão forma oposição ao mapa astrológico dos Estados Unidos, em 2013. Ali será a marca maior dessa época. O dólar deve acabar de vez e, quem sabe, explodir alguma guerra”, previu.

Além dos esotéricos, os evangélicos devem se reunir no simbólico 11/11/11, mas para orar. É o Dia Global da Adoração, divulgado pela internet, no mundo inteiro. A intenção é “alcançar a unificação do corpo de Cristo”, em uma corrente de oração que vai durar das 7h às 8h. “Eu creio que o conceito do 11/11/11 é muito poderoso. Ninguém sabe o que Deus irá fazer, mas eu tenho certeza que será algo bom”, afirmou uma das mais famosas adeptas do movimento, a cantora e pastora australiana Darlene Zschech, em texto do site oficial do evento.

Dia de festaA data polêmica será de festa para o estudante Guilherme Queiroga, morador do Colorado. É o dia em que ele completa 11 anos. As previsões traçadas por numerólogos para o jovem são animadoras. “Esse menino será iluminado. Os grandes gênios da humanidade são número 11. Sempre é um número de destaque. Todos os fora do comum são número 11, assim como tudo que foge do padrão, para o bem ou mal. O 11 é ousadia”, explicou Felipe Porto. Ainda segundo o numerólogo, aqueles marcados por esse número possuem percepção espiritual, são idealistas e avançados em relação ao seu tempo.

Isso pode torná-los um tanto incompreendidos no seu meio social. “São pessoas ligadas às forças superiores, inventivas, progressistas e intuitivas. Estão sempre em busca da verdade e vivem segundo suas próprias regras. Quando conseguem descobrir verdades sobre si mesmas ou sobre a vida, verdades que beneficiem a humanidade como um todo, encontram-se no caminho do sucesso”, descreveu Porto.

No que depender de Guilherme Queiroga, as projeções positivas se tornarão realidade. “Estou entre os melhores da minha sala. Gosto de me destacar. Adoro matemática, mas quero ser um grande jogador de futebol”, disse. Guilherme não entende de numerologia. A família dele, porém, acredita nessa corrente de pensamento. “Se ele pensar positivo, essa data vai trazer bons fluidos para a vida dele. Os astros estão a favor do meu neto”, afirmou a avó Maria Helena Queiroga, 66 anos, comerciante.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O MPF e a Segurança Pública

Na semana passada, realizou-se o 28º Encontro Nacional dos Procuradores da República, promovido anualmente pela ANPR - Associação Nacional dos Procuradores da República.

Neste ano, o tema do encontro foi O Ministério Público Federal e os Desafios da Segurança Pública. Foram realizados diversos painéis de trabalho (mesmo com aquele sol maravilhoso, o mar, a piscina, o bar e o chamado da natureza linda de Caucaia, cerca de 35 km de Fortaleza...) e tivemos como palestrantes convidados:

1) Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e Secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame;

2) Gilda Carvalho, Subprocuradora-Geral da República e Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão e Paula Bajer Fernandes Martins da Costa, Procuradora Regional da República e Coordenadora do Grupo de Trabalho do Sistema Prisional;

3) Conselheiros do CNMP - Conselho Nacional do Ministério Público: Thaís Schilling Ferraz (Juiza Federal), Almino Affonso (Advogado) e Mário Luiz Bonsaglia (Procurador Regional da República-MPF);

4) Wálter Fanganiello Maierovitch, jurista, desembargador aposentado do TJ/SP, professor, colunista do Portal Terra (http://maierovitch.blog.terra.com.br/) e da Rádio CBN.

 Na sexta-feira, 5, durante toda a manhã debatemos temas relativos à segurança pública e criminalidade, resultando na elaboração da Carta de Caucaia, aprovada, à tarde, pela Plenária formada por todos os participantes e que segue abaixo transcrita. É a contribuição do Ministério Público Federal para a melhoria da Segurança Pública.


 
XXVIII Encontro Nacional dos Procuradores da República 

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E OS DESAFIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA 
Carta de Caucaia – CE 

Os membros do Ministério Público Federal, reunidos no Município de Caucaia‐CE, no XXVIII Encontro Nacional dos Procuradores da República, ocorrido entre os dias 1º e 5 de novembro de 2011, em torno do tema central “O Ministério Público Federal e os Desafios da Segurança Pública”;

CONSIDERANDO que o Direito Penal tem a função também de proteção dos direitos humanos da coletividade, pois as garantias fundamentais envolvem não apenas as dos investigados e dos réus, mas também aquelas correlatas aos interesses sociais.

CONSIDERANDO, ainda que, por seus poderes e órgãos constituídos, é dever fundamental do Estado a prestação de jurisdição eficiente de modo a garantir também a segurança pública e valorizar a cidadania.

CONCLUEM, a partir destas premissas, que:

1) a nova Lei de Medidas Cautelares (12.403/2011) traz modernas regras como alternativas à exclusiva prisão ou liberdade, porém é fundamental que o Estado adote as medidas mais adequadas de forma a evitar a insegurança pública e a desproteção jurídica;

2) o Estado deve constituir um banco nacional de medidas alternativas à prisão e adquirir imediatamente equipamentos para viabilizar a vigilância eletrônica, com o fim de permitir a efetividade da Lei 12.403;

3) reconhece‐se como relevante e fundamental para dar maior eficiência ao sistema recursal brasileiro a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 15/2011 (PEC dos Recursos);

4) apoia‐se a aprovação do PL 3443/2008, que aprimora a Lei de Lavagem de Dinheiro;

5) é necessário melhor aparelhamento do Estado para combate ao crime organizado, bem assim a melhor definição do tipo do delito de organização criminosa e a regulamentação das técnicas especiais de investigação (PL 6.578/2009);

6) repudia‐se o teor do PLS 354/2009 e do PL 5.228/2005, que geram anistia criminal de condutas relacionadas a bens e direitos ocultados anteriormente ao Estado;

7) é fundamental que seja instituída, por lei, a Política Nacional de Segurança Pública (PNSP), a ser executada, nos três níveis da federação, pelos órgãos do Sistema Nacional de Segurança Pública e Justiça Criminal, com controle social e participação necessária do Ministério Público;

8) na Política Nacional de Segurança Pública, é necessário um pacto federativo envolvendo os Poderes constituídos e o Ministério Público, com a meta de reduzir os índices de crimes violentos letais intencionais a patamares considerados nãoepidêmicos pela ONU (abaixo de 10 homicídios por 100.000 habitantes);

9) deve haver estímulo a políticas públicas que também sirvam para a prevenção da prática de crimes;

10) a União deve estabelecer padrão nacional de estatística dos crimes violentos letais intencionais, abarcando especialmente os autos de resistência;

11) deve haver implementação e modernização de unidades de perícia criminal em todo o Brasil;

12) deve ser implementada política de melhoria das condições dos presídios, de forma a garantir a dignidade dos presos; de outro lado, deve haver ampliação e maior rigor do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) para os casos de criminosos de alta periculosidade, em especial para líderes de organizações criminosas;

13) o Brasil deve dedicar maior esforço ao cumprimento das convenções internacionais em matéria criminal, particularmente os mandados de criminalização das Convenções de Palermo (crime organizado) e de Mérida (corrupção);

14) como forma de aprimorar a persecução e cooperação em crimes cibernéticos, o Brasil deve criar mecanismos como aqueles previstos na Convenção de Budapeste (2001), aprovar o PL 84/1999 e o PL do Marco Civil da Internet;

15) especialmente no momento em que o Brasil se destaca no contexto político‐econômico global com a organização de megaeventos desportivos, torna‐se ainda mais urgente fixar o marco normativo e tipificar as condutas de terrorismo, financiamento ao terrorismo e participação em organização terrorista;

16) o Procurador‐Geral da República deve ser a autoridade central nos procedimentos de cooperação jurídica internacional em matéria penal, especialmente em virtude do disposto no artigo 129 da Constituição;

17) o Brasil deve dar cumprimento automático aos mandados internacionais de prisão, veiculados pela Interpol (com posterior análise do STF), a fim de não permitir que o País seja refúgio para criminosos;

18) é importante que o Brasil internalize o Acordo de Foz de Iguaçu (2010), que criou o “mandado do Mercosul de capturas”;

19) o Brasil deve propor a regulamentação, no âmbito do Mercosul e da Unasul, da cooperação penal direta em áreas de fronteira para atos de comunicação processual e obtenção de provas de delitos transnacionais;

20) a União deve priorizar os recursos humanos e financeiros em atividades de inteligência e operações de fiscalização nas fronteiras, inclusive com o uso das Forças Armadas, nas hipóteses legais; também, mediante convênios com os Estados, deve ser estimulada a implantação de unidades policiais em áreas de fronteira;

21) o Brasil deve tipificar o delito de conspiração, como forma de reprimir a prática de crimes graves detectados ainda na fase preparatória;

22) é fundamental que sejam excluídas do ordenamento jurídico a prescrição retroativa (que existe somente no Brasil) e a intercorrente, que estão entre as principais causas de impunidade;

23) devem ser ampliadas as possibilidades de resolução consensual no processo penal, permitindo a realização de acordos pelo Ministério Público para a aplicação imediata de penas, nos termos do procedimento sumário previsto no PLS 156/2009;

24) o Programa Nacional de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaçadas deve ter aprimoramento legislativo, com garantias orçamentárias, profissionalização da gestão e efetiva participação do Ministério Público na União e nos Estados;

25) os institutos despenalizadores não podem ser aplicados a delitos graves, devendo haver uma readequação das penas de forma proporcional à gravidade dos delitos;

26) reafirma‐se que o Ministério Público tem poder de investigação criminal, confiando em que o Plenário do Supremo Tribunal Federal o reconhecerá;

27) é necessário que o Poder Judiciário, notadamente os tribunais superiores, considere com mais atenção os interesses coletivos na jurisprudência penal, de modo a não gerar proteção deficiente do interesse público.

28) os procuradores da República reafirmam sua confiança no CNMP, manifestada antes mesmo de sua criação, certos de que este Conselho não excederá de suas atribuições constitucionais para imiscuir‐se na atividade‐fim do órgão ministerial, o que lhe é peremptoriamente vedado, conforme já reconheceu o próprio Conselho;

29) os procuradores da República apoiam a indicação das Subprocuradoras‐Gerais da República Deborah Macedo Duprat de Britto Pereira Duprat e Ela Wiecko Volkmer de Castilho para o Supremo Tribunal Federal pois, além de reconhecida e honrosa atuação em todas as áreas do Direito, têm conhecimento e domínio na seara penal e processual penal, indispensável para que a Corte Constitucional aprimore o tratamento desses temas;

30) a política nacional de segurança pública e justiça criminal depende da valorização das carreiras envolvidas na investigação, persecução e execução penal, e o Ministério Público, como titular privativo da ação penal, é instituição essencial e indispensável ao controle da criminalidade;

31) é necessário enfatizar que o Estado deve fornecer garantias – inclusive físicas – aos membros do Ministério Público e do Judiciário para o adequado desempenho de suas atribuições constitucionais, sob pena de, na inércia, ocorrerem novos casos como o do Procurador da República Pedro Jorge e da Juíza Patrícia Acioli;

32) é imprescindível, também, que o Estado implemente política remuneratória digna para as magistraturas do Ministério Público e do Poder Judiciário, compatível com suas prerrogativas e inúmeras responsabilidades. A diminuição gradativa do poder aquisitivo dessas magistraturas constitui indiscutível estratégia de esvaziamento de seus quadros e desestímulo à sua atuação cotidiana.

A Associação Nacional dos Procuradores da República permanecerá mobilizada no aprimoramento da segurança pública e na defesa das prerrogativas de todos os membros da Instituição, bem como na busca da recomposição de perdas inflacionárias sofridas ao longo dos últimos anos e no reconhecimento desta necessidade.

Caucaia, 3 de novembro de 2011.